cena: na cozinha, o coma ruidoso
da geladeira
uma mosca volteando. há
uma dúvida a ebulir-
me, porque é só
silêncio
eu sou só
silêncio
vontade nenhuma
de gole
como se o ar fosse inflexível
a guinchamentos
incêndios
esta mosca explorando a geografia
de manchas da toalha
é a negação
de qualquer incêndio
sinto que ela ri, mas como
ri e de pano de fundo: o coma ruidoso
da geladeira
duas galhofeiras de plantão
esta mosca
e esta geladeira
moribunda que nunca morre
ante o jornal que empunho
suas páginas fragilíssimas
estampando caretas pouco hábeis
mosca e geladeira, ao contrário
nem se empenham na arte
estão sempre a morrer
logo, não precisam fingir que são
senhoras de si,
são: mosca-e-geladeira
sem necessitar
de prolixidade alguma,
mosca-e-geladeira,
máscara nenhuma
então riem,
(ouça como riem)
riem a
mosca e a geladeira moribunda
e riem mais uma vez
e outra
.
"Sou gêmeo de mim e tudo/ O que sou é/ Distância./ ..."
(Daniel Faria)
(Daniel Faria)
.
20 de dez. de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
.
.
.
.
.
foto de Damien Peyret
Um comentário:
Bruno,
que bom que temos ressuscitado algumas coisas. Vou aparecer no twitter. É que geralmente só apareço lá por desespero..
ce tava fazendo falta por lá!
Postar um comentário