"Sou gêmeo de mim e tudo/ O que sou é/ Distância./ ..."
(Daniel Faria)

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14 de dez. de 2010

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enquanto as pás giravam velozes
num desgaste frenético
a fim de refrescar a todo custo
esses últimos meses
de calor minha pele suada
sua morte dupla de células
mortas a se despregarem
invisivelmente
enquanto roçavam as pás
a arejar meus pensamentos
suados como trincas
envidraças por onde
noite e mormaço
invisivelmente
enquanto o tec---tec---tec---tec---
de máquina cansada, tanta tensão
em varrer lugar algum, a decepar
o nada e disso só sobrar
o vento
para evaporar suores alheios, enquanto
o mesmo tec---tec---tec---tec---
compassado como um
marca-passo, como um
metrônomo, como uma
gambiarra alternativa de marcação
de tempo, enferrujada
como o tempo que marca
enquanto a decadência daquela volúpia sincronizada
abafava canções
folclóricas, moderatos, ritornellos, overtures
e o amadurecimento
de tantos poemas crus meus cabelos se avolumando
enquanto tudo isso
a vida rompia, cedia, cerzia seu próprio fluxo
de solidões,
por mais que sortidas e
querendo renegar porquês,
solidões
e agora eu sei disso,
e agora vai sobrar um silêncio oco e polido demais
nada mais vai martelar minha mediocridade pelas paredes pelos lençóis
esvoaçantes
porque trocaram o ventilador por outro
que não flagra nada
como se viagens tempestuosas e circulares fossem possíveis
feitas apenas de ventos silenciosos, nenhuma trepidação, como
se os terços não fossem compostos
de sementinhas cinzentas, como
se músicas não precisassem antes serem estudadas aos tropeços
e não fossem precisos para isso barulhos frenéticos e regulares
de metrônomos ensurdecedores
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foto de Damien Peyret

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