"Sou gêmeo de mim e tudo/ O que sou é/ Distância./ ..."
(Daniel Faria)

.

25 de jan. de 2011

ensolações

.

só a distância é certa
das coisas que rangem
às gotas
entre as
escarpas sazonadas
as variações
de embaçamentos
ao sol
as profusões
de contas
os milagres
de pulverizações
o mundo
é feito de imagens
quando travam
às transações
então escrevo
com outras imagens que
travam onde
transitam
em busca de
afinidades com
a brisa




nas coagulações íntimas
menos que estridentes
como os canaviais
mares mortos
de uma fotossíntese
verde quase
amarela
que se dissipa
aos crepúsculos quando vêm
circundar sempre
a mesma coisa
como se saturados
de palpitações




o tempo minado
é o tempo minado
para que se forjam
álbuns de fotografia
e cabelos mudados




nem sempre intentamos deserções
menos febris
sempre sobram
confusões de elasticidades




e papéis picados
à fatalidade
de nunca mais encontrar




se nos propomos a jogar
com transparências
na verdade
é sempre
outra carne
na luz que é
vigilância aracnídea




como essa praça: é sumamente
o que é
e sentimos
seu frescor suntuoso
misteriosamente verdes
como monges
recém-admitidos




definição para
monges recém-admitidos:
abelhas inconsoláveis
incomodadas
com as próprias listras
como ninguém
a orar
trajando o luto
das falsas trajetórias
que suas asas jamais
poderiam refletir
novamente

assim, arrebatadas
pela luz




definição para
asas de abelhas:
a essência
das coisas por estirpar




como a luz de sódio
desses postes ao amanhecer
quando estiverem azul
e laranja entranhados
na cortina bege
de tal forma que
já não poderiam ser
outra cor

de repente o laranja
some



e o azul estira-se
num branco
que não abrange nada além
da própria ausência
nem o mundo inteiro cabe




de repente prendemos
a abelha no copo
sem saber ao certo
por que
não medimos
nossas próprias dimensões

.

2 comentários:

João Lima disse...

bravo! belas imagens, bruno

Sebastião Ribeiro disse...

Imagens interessantes. Belo texto.

.
.
.

foto de Damien Peyret

arquivo