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o silêncio por enquanto
deserto desandado
então me ponho
a descrever as beiradas
que sei-as
como certezas possíveis
coisas desde as quais
aos travamentos acompanho
qualquer ritmo
que venha
anônimo
a temperaturas mais ou menos
desertadas
ponho-me a descrever
para atiçar embaçamentos
os redemoinhos invisíveis
os crepúsculos sem hora
para engolir
da janela se vê a praça, as copas
das árvores, tão lúcidas
da luz que não extinguem
quando as toca
ficam terríveis, assim
ao quarto acordado
são outra coisa já
(isso de transmudar)
os tacos são infinitos matizes
da mesma extensão
castanha
ocre
marrom escura
se encontram cheios
de riscos
e desnivelados
por isso acredito muito
quando olho bem
(acreditar
como verbo necessariamente
intransitivo
neste momento)
isso faz brilhar sua densidade
porque também
este apartamento é muito iluminado
nalguns pontos é quase uma deserção
de bordas
o que pode ser um bocado
constrangedor
das janelas posso dizer que dá gosto
ouvi-las ranger
os contornos desafinando
nas molduras
elas me instigam
com suas frestas e vidros
as da cozinha são as mais incríveis
o vidro abaulado por onde
as luzes externas se multiplicam
em incertezas
laranjas e avermelhadas
todas as janelas
são contornadas por pastilhas
amarelas
formando um relevo arredondado
essa parte não dá pra explicar
mesmo
não vamos nos iludir
mas é a que eu mais gosto
a cozinha e o banheiro
são todos azulejos
brancos
e são cheios de interferências
como já era de se esperar
como é sempre de se esperar
duas portas sanfonadas
compartimentos desacreditados
poder-se-ia dizer
intrusos
se não fossem tudo
os móveis são novos
não posso percorrê-los
como outras moradas
por aqui, misteriosíssimas
seriam uma mentira
se eu os transformasse em algo denso
por enquanto só sofrem
com o desnível do piso
mas não são nada que valha, ainda
para poemas
talvez
sejam eles as coisas ao redor
que mais me calam
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"Sou gêmeo de mim e tudo/ O que sou é/ Distância./ ..."
(Daniel Faria)
(Daniel Faria)
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7 de fev. de 2011
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foto de Damien Peyret
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